SINTESE: DIÁLOGOS DE PLATÃO: CRÁTILO; FILME: O ENIGMA DE KASPAR HAUSER; DE MAGISTRO DE S. AGOSTINHO.
Nesta síntese abordaremos as questões relativas a linguagem que estão presente na obra de Platão, no filme e, no De Magistro de Santo Agostinho. A ordem de apresentação será de acordo com as semelhanças de abordagem, como “Crátilo” em primeiro lugar, “O enigma de Kaspar Hauser” em segundo e por último o “De Magistro”. O filme não vem por derradeiro, pela obra de Agostinho ser um tanto contraditória a ele, no que diz respeito de como se dá o conhecimento.
I - Na obra de Platão “Crátilo”, temos um diálogo sobre a justeza dos nomes, que surge a partir da opinião contraria de Hermógenes e Crátilo, que querem saber qual é a natureza desses signos. Para o primeiro os nomes decorrem por convenção, que segundo o Dicionário de filosofia (2000, p.580) se trata de um ajuste, acordo ou determinação do meio social.
Já, Crátilo acredita que os nomes nada têm de convenção por eles se originarem pela própria natureza dos objetos.
Nosso Crátilo sustenta que cada coisa tem por natureza um nome apropriado e que não se trata da denominação que alguns homens convencionaram dar-lhes, com designá-las por determinadas vozes de sua língua, mas que por natureza, têm sentido certo, sempre o mesmo, tanto entre os helenos como entre os bárbaros em geral.
(NUNES, 2001, p. 145).
Como podemos perceber são duas posições diferentes quanto à origem dos ónoma (nome), que neste diálogo será orientado por Sócrates.
A discussão começa com Hermógenes convidando Sócrates para participar do diálogo. De inicio ele admite não ter conhecimento dessa questão, e exalta outro personagem, Prótico, que não participa do diálogo, mas que segundo Sócrates, teria a ciência dessa matéria.
Percebemos que Crátilo diz a Hermógenes que seu nome não é aquele pelo qual é conhecido, Sócrates fazendo uso de seu método, instiga os personagens, e fala logo após. Ele começa conversando com Hermógenes, e lhe explica o porquê Crátilo fala que seu nome não é verdadeiro, dizendo que é apenas uma brincadeira, pois, etimologicamente Hermógenes advêm de outro nome: Hermes e que ele nada tem de vinculo ou de qualidades semelhantes com esse deus. Daí em diante continua as indagações.
Sócrates parece se opor a posição de Hermógenes isso fica mais claro quando ele diz “Se eu dou nome a uma coisa qualquer, digamos, se, ao que hoje chamamos homem, eu der nome de cavalo, a mesma coisa passará a ser denominada homem por todos, e cavalo por mim particularmente” e depois pergunta se é isso mesmo que Hermógenes pretende dizer, ao receber uma resposta afirmativa faz uma abordagem ao que disse Protágoras e, incita Hermógenes àdmitir que a teoria deste é enganosa. Se cada opinião fosse tomada como verdade, qual delas seria de fato verdadeira, é mais ou menos isto que Sócrates quer dizer.
Depois disso, falam a respeito dos nomes que variam de lugar para lugar, de um país para outro, embora se tratando do mesmo objeto e, então se supõe que as coisas variam de acordo com o que pensa o homem, ou então, que ela tem uma essência própria, imutável, de modo que todos ao designar nomes diferentes nas diversas línguas, percebam essa essência no objeto. Trata-se, então, para Sócrates de uma essência natural.
Eles acertam também que ao nomear as coisas, deve-se fazê-lo pelo modo natural e, da maneira adequada, e não da forma que pede a imaginação. Então chegam a falar que para nomear algo, será necessária a informação, pois o nome é instrumento para informar a respeito das coisas, e que o trabalho de transmitir os nomes é do legislador e, que nem todo mundo pode ter essa habilidade. Na seqüência, Sócrates faz a primeira tentativa de provocar em Hermógenes a aceitação de que a coisa tem em si mesma sua existência. E o legislador, sob direção do dialético, seria aquele capacitado para formar com sons e sílabas o nome que por natureza é apropriado para cada objeto. Uma vez que o legislador pode ser de sua cultura ou de outra, em nada, seria inferior a propriedade da qual ele faz uso as sílabas, podendo as mesmas ser até diferentes, o que não tornaria o objeto com essências diferentes, pois há uma relação dos nomes, quaisquer que sejam com sua natureza (essência).
No número (391 a) Hermógenes parece fraquejar, mas não se dar por convencido e pede que continuem com o dialogo fazendo uma analise do que consiste a natural exatidão dos nomes. Mais adiante eles ordenam uma serie de analises etimológica dos nomes.
Até aqui entendemos que Sócrates fala que a forma que o nome vai ser chamado tem que transmitir seu significado, que por sua vez é universal.
Começam, então a dialogar sobre a linguagem feita por gestos como um meio de comunicar o que se quer. A análise daqui em diante é feita pelas letras usadas nos nomes.
No final da conversa entre Sócrates e Hermógenes e principio do diálogo com Crátilo, não há uma afirmação concreta acerca do que esta sendo discutido. Hermógenes diz a Sócrates que Crátilo mantêm sua posição numa obscuridade, e que por isso fica difícil compreendê-la.
Crátilo diz ter gostado do que foi dito por Sócrates, e o convida a ser seu discípulo. Voltam a falar do nome de Hermógenes, dizendo que a justeza dos nomes das coisas depende da semelhança que é remetida para o objeto.
Crátilo fala que conhecendo os nomes certamente se conhece o objeto referido pelo nome. Depois mudam o foco da discussão para a coisa em si, desligada do nome, sendo a coisa portadora de significado próprio, sendo o nome já um conhecimento da coisa.
No final do dialogo, Crátilo é levado por Sócrates a fazer uma analise sobre a exatidão dos nomes e, do conhecimento que se pode ter deles. Impelido, Crátilo, não tem como negar que para dar origem aos nomes, o legislador deveria ter conhecimento do que estava por fazer. Mais tarde, Sócrates fala para ele que como Heráclito pregava, as coisas deviam estar em constante movimento, Crátilo, tendo concordado, é forçado a admitir que não é possível que o legislador tenha tido o conhecimento daquilo que estava em constante mudança, e nessa dinâmica seria impossível um conhecimento, na medida que este permanece segundo Heráclito em constante transformação. O diálogo acaba, e não se chega a uma resposta definitiva para o problema.
II - No filme “O enigma de Kaspar Hauser” é perceptível a importância da linguagem para a comunicação humana e sua relação com a sociedade. Segundo o que podemos perceber numa analogia com o texto platônico do “Crátilo” Hauser não tinha inicialmente noções de nome algum, não conhecia a linguagem, nem tinha contato com as pessoas, por isso não desenvolveu sua capacidade de comunicação. Em certo momento, ele é interpelado se antes de sua socialização tinha idéia de alguma coisa, como por exemplo, de Deus, e sua resposta é negativa, não tinha concepção de nada, isso por que lhe faltava linguagem.
A faculdade da linguagem como percebemos no “Crátilo” decorre pela noção que temos, naturalmente ou por convenção das coisas. Quando não temos essa noção, fica difícil conceber nomes como é o caso de Kaspar Hauser que viveu sozinho e isolado das influências sociais.
O personagem quando posto em convivência com pessoas semelhantes a si, começa a ser educado, até então, como disse John Locke, era uma tabula rasa, que começou a adquirir conhecimento através da experiência com os outros. As crianças são as primeiras que lhe ensinam a linguagem. Suas atitudes em relação ao mundo fora de sua “prisão” é um tanto angustiosa, ele percebe o que ninguém consegue como enxergar no escuro, notar o barulho do vento, das cantorias do coral e do padre na missa, e afirma que seu quarto é melhor do que o mundo exterior. Ele acreditava que sua existência no mundo teria sido um duro golpe e todos tinham nele curiosidade. Com o galo se espanta e com os pássaros se identifica, com a comida, tinha se acostumado a comer pão, outra coisa lhe parecia ruim.
A experiência que o mundo lhe proporcionou, fez que surgisse a curiosidade pelo saber. Ele era alguém que via o mundo de forma diferente dos outros, alguém que não tinha sido influenciado a vida toda pela linguagem.
A linguagem é perceptível não apenas entorno de Kaspar Hauser, o próprio filme é em alemão, para entendê-lo vazemos a convenção da linguagem para o português. Kaspar teve que assimilar aquela língua para se socializar, no filme vimos ainda outros personagens que caracterizam a importância da linguagem, da escrita, como é o caso do escrivão.
Kaspar Hauser revela que antes não podia sonhar, pois não conhecia os signos. O filme, muito filosófico, termina com a morte e permanência do enigma de Kaspar Hauser. O motivo do fim de sua vida, sem dúvida é por causa do seu aprendizado, o que possibilitava a revelação do seu segredo, por intermédio da entrega daquele que antes lhe mantinha em cativeiro.
III - O “Confissões de Magistro” de Santo Agostinho trata da problemática da comunicação e, finalidade da linguagem.
O diálogo tem início com a pergunta proferida por Agostinho a Adeodato sobre a finalidade da fala, consistindo a resposta numa dupla finalidade: ensinar ou aprender. Agostinho lhe diz que é apenas ensinar. Um ensino pela recordação (lembrando sua influencia socrática), isso porque para ele a comunicação pode servir dois propósitos: transferir idéias (“ensinar”) e lembrar alguém de um conhecimento que ele já possui. Isto demonstra que Agostinho acreditava no conhecimento inato. Sendo a palavra sinal para comunicar esse conhecimento.
O diálogo entre os dois toma o rumo da discussão do “Crátilo” e falam de como explicar as palavras senão pelas próprias palavras ou signos. Adiante, surge a pergunta se é possível mostrar alguma coisa sem o emprego de um sinal, chegando à conclusão de que não é possível, pois só o sinal expressa um significado. Logo depois o santo admite que a fala, por exemplo, pode ser indicada sem símbolos, e Adeodato admite isso, pois ela não pode ser ensinada, apenas é executada.
Agostinho fala para Adeodato que é natural para a mente não só pensar na palavra quando ela é mencionada, mas também na coisa que a palavra significa. Faz a distinção entre ensinar e significar, pois ensinar é significar através de signos. E diz que a coisa tem valor superior aos sinais, já que o objetivo do sinal é possibilitar o conhecimento da própria coisa. Então Adeodato tem uma dúvida, se é o conhecimento da coisa mais importante que o nome, porque que o conhecimento do nome não é também importante? Para Agostinho, a coisa precede o nome.
O signo ao ser apresentado a mim, segundo S. Agostinho, eu já o conheço, por tanto nada de novo me foi ensinado. E se eu não o conheço como poderia haver ensinamento? Já que o signo pode ser natural ou por convenção. Então, ele que anteriormente disse que só a fala poderia ser indicada sem símbolos, agora diz que é falso dizer que nada pode ser mostrado sem símbolos, quando há milhares de coisas que se apresentam a mente sem necessidade de nenhum sinal.
Agostinho quer dizer com tudo isso que a palavra não é necessária para adquirir o conhecimento, por não possibilitar o aprendizado, mas nos admoesta para recordação. Diz que no seu conjunto ela tem suas utilidades, mas que não se deve lhe atribuir grande importância.
Esse diálogo é finalizado afirmando que o conhecimento é inato, estando na pessoa e se evidenciando pela recordação, e por isso a palavra, os signos não são meios de assimilação do conhecimento, por eles já estarem pré-dispostos no interior do individuo.
Kaspar Hauser era o único que via, sentia e ouvia as coisas, (por exemplo: o vento), totalmente desprovido de significado simbólico.
Nesta síntese abordaremos as questões relativas a linguagem que estão presente na obra de Platão, no filme e, no De Magistro de Santo Agostinho. A ordem de apresentação será de acordo com as semelhanças de abordagem, como “Crátilo” em primeiro lugar, “O enigma de Kaspar Hauser” em segundo e por último o “De Magistro”. O filme não vem por derradeiro, pela obra de Agostinho ser um tanto contraditória a ele, no que diz respeito de como se dá o conhecimento.
I - Na obra de Platão “Crátilo”, temos um diálogo sobre a justeza dos nomes, que surge a partir da opinião contraria de Hermógenes e Crátilo, que querem saber qual é a natureza desses signos. Para o primeiro os nomes decorrem por convenção, que segundo o Dicionário de filosofia (2000, p.580) se trata de um ajuste, acordo ou determinação do meio social.
Já, Crátilo acredita que os nomes nada têm de convenção por eles se originarem pela própria natureza dos objetos.
Nosso Crátilo sustenta que cada coisa tem por natureza um nome apropriado e que não se trata da denominação que alguns homens convencionaram dar-lhes, com designá-las por determinadas vozes de sua língua, mas que por natureza, têm sentido certo, sempre o mesmo, tanto entre os helenos como entre os bárbaros em geral.
(NUNES, 2001, p. 145).
Como podemos perceber são duas posições diferentes quanto à origem dos ónoma (nome), que neste diálogo será orientado por Sócrates.
A discussão começa com Hermógenes convidando Sócrates para participar do diálogo. De inicio ele admite não ter conhecimento dessa questão, e exalta outro personagem, Prótico, que não participa do diálogo, mas que segundo Sócrates, teria a ciência dessa matéria.
Percebemos que Crátilo diz a Hermógenes que seu nome não é aquele pelo qual é conhecido, Sócrates fazendo uso de seu método, instiga os personagens, e fala logo após. Ele começa conversando com Hermógenes, e lhe explica o porquê Crátilo fala que seu nome não é verdadeiro, dizendo que é apenas uma brincadeira, pois, etimologicamente Hermógenes advêm de outro nome: Hermes e que ele nada tem de vinculo ou de qualidades semelhantes com esse deus. Daí em diante continua as indagações.
Sócrates parece se opor a posição de Hermógenes isso fica mais claro quando ele diz “Se eu dou nome a uma coisa qualquer, digamos, se, ao que hoje chamamos homem, eu der nome de cavalo, a mesma coisa passará a ser denominada homem por todos, e cavalo por mim particularmente” e depois pergunta se é isso mesmo que Hermógenes pretende dizer, ao receber uma resposta afirmativa faz uma abordagem ao que disse Protágoras e, incita Hermógenes àdmitir que a teoria deste é enganosa. Se cada opinião fosse tomada como verdade, qual delas seria de fato verdadeira, é mais ou menos isto que Sócrates quer dizer.
Depois disso, falam a respeito dos nomes que variam de lugar para lugar, de um país para outro, embora se tratando do mesmo objeto e, então se supõe que as coisas variam de acordo com o que pensa o homem, ou então, que ela tem uma essência própria, imutável, de modo que todos ao designar nomes diferentes nas diversas línguas, percebam essa essência no objeto. Trata-se, então, para Sócrates de uma essência natural.
Eles acertam também que ao nomear as coisas, deve-se fazê-lo pelo modo natural e, da maneira adequada, e não da forma que pede a imaginação. Então chegam a falar que para nomear algo, será necessária a informação, pois o nome é instrumento para informar a respeito das coisas, e que o trabalho de transmitir os nomes é do legislador e, que nem todo mundo pode ter essa habilidade. Na seqüência, Sócrates faz a primeira tentativa de provocar em Hermógenes a aceitação de que a coisa tem em si mesma sua existência. E o legislador, sob direção do dialético, seria aquele capacitado para formar com sons e sílabas o nome que por natureza é apropriado para cada objeto. Uma vez que o legislador pode ser de sua cultura ou de outra, em nada, seria inferior a propriedade da qual ele faz uso as sílabas, podendo as mesmas ser até diferentes, o que não tornaria o objeto com essências diferentes, pois há uma relação dos nomes, quaisquer que sejam com sua natureza (essência).
No número (391 a) Hermógenes parece fraquejar, mas não se dar por convencido e pede que continuem com o dialogo fazendo uma analise do que consiste a natural exatidão dos nomes. Mais adiante eles ordenam uma serie de analises etimológica dos nomes.
Até aqui entendemos que Sócrates fala que a forma que o nome vai ser chamado tem que transmitir seu significado, que por sua vez é universal.
Começam, então a dialogar sobre a linguagem feita por gestos como um meio de comunicar o que se quer. A análise daqui em diante é feita pelas letras usadas nos nomes.
No final da conversa entre Sócrates e Hermógenes e principio do diálogo com Crátilo, não há uma afirmação concreta acerca do que esta sendo discutido. Hermógenes diz a Sócrates que Crátilo mantêm sua posição numa obscuridade, e que por isso fica difícil compreendê-la.
Crátilo diz ter gostado do que foi dito por Sócrates, e o convida a ser seu discípulo. Voltam a falar do nome de Hermógenes, dizendo que a justeza dos nomes das coisas depende da semelhança que é remetida para o objeto.
Crátilo fala que conhecendo os nomes certamente se conhece o objeto referido pelo nome. Depois mudam o foco da discussão para a coisa em si, desligada do nome, sendo a coisa portadora de significado próprio, sendo o nome já um conhecimento da coisa.
No final do dialogo, Crátilo é levado por Sócrates a fazer uma analise sobre a exatidão dos nomes e, do conhecimento que se pode ter deles. Impelido, Crátilo, não tem como negar que para dar origem aos nomes, o legislador deveria ter conhecimento do que estava por fazer. Mais tarde, Sócrates fala para ele que como Heráclito pregava, as coisas deviam estar em constante movimento, Crátilo, tendo concordado, é forçado a admitir que não é possível que o legislador tenha tido o conhecimento daquilo que estava em constante mudança, e nessa dinâmica seria impossível um conhecimento, na medida que este permanece segundo Heráclito em constante transformação. O diálogo acaba, e não se chega a uma resposta definitiva para o problema.
II - No filme “O enigma de Kaspar Hauser” é perceptível a importância da linguagem para a comunicação humana e sua relação com a sociedade. Segundo o que podemos perceber numa analogia com o texto platônico do “Crátilo” Hauser não tinha inicialmente noções de nome algum, não conhecia a linguagem, nem tinha contato com as pessoas, por isso não desenvolveu sua capacidade de comunicação. Em certo momento, ele é interpelado se antes de sua socialização tinha idéia de alguma coisa, como por exemplo, de Deus, e sua resposta é negativa, não tinha concepção de nada, isso por que lhe faltava linguagem.
A faculdade da linguagem como percebemos no “Crátilo” decorre pela noção que temos, naturalmente ou por convenção das coisas. Quando não temos essa noção, fica difícil conceber nomes como é o caso de Kaspar Hauser que viveu sozinho e isolado das influências sociais.
O personagem quando posto em convivência com pessoas semelhantes a si, começa a ser educado, até então, como disse John Locke, era uma tabula rasa, que começou a adquirir conhecimento através da experiência com os outros. As crianças são as primeiras que lhe ensinam a linguagem. Suas atitudes em relação ao mundo fora de sua “prisão” é um tanto angustiosa, ele percebe o que ninguém consegue como enxergar no escuro, notar o barulho do vento, das cantorias do coral e do padre na missa, e afirma que seu quarto é melhor do que o mundo exterior. Ele acreditava que sua existência no mundo teria sido um duro golpe e todos tinham nele curiosidade. Com o galo se espanta e com os pássaros se identifica, com a comida, tinha se acostumado a comer pão, outra coisa lhe parecia ruim.
A experiência que o mundo lhe proporcionou, fez que surgisse a curiosidade pelo saber. Ele era alguém que via o mundo de forma diferente dos outros, alguém que não tinha sido influenciado a vida toda pela linguagem.
A linguagem é perceptível não apenas entorno de Kaspar Hauser, o próprio filme é em alemão, para entendê-lo vazemos a convenção da linguagem para o português. Kaspar teve que assimilar aquela língua para se socializar, no filme vimos ainda outros personagens que caracterizam a importância da linguagem, da escrita, como é o caso do escrivão.
Kaspar Hauser revela que antes não podia sonhar, pois não conhecia os signos. O filme, muito filosófico, termina com a morte e permanência do enigma de Kaspar Hauser. O motivo do fim de sua vida, sem dúvida é por causa do seu aprendizado, o que possibilitava a revelação do seu segredo, por intermédio da entrega daquele que antes lhe mantinha em cativeiro.
III - O “Confissões de Magistro” de Santo Agostinho trata da problemática da comunicação e, finalidade da linguagem.
O diálogo tem início com a pergunta proferida por Agostinho a Adeodato sobre a finalidade da fala, consistindo a resposta numa dupla finalidade: ensinar ou aprender. Agostinho lhe diz que é apenas ensinar. Um ensino pela recordação (lembrando sua influencia socrática), isso porque para ele a comunicação pode servir dois propósitos: transferir idéias (“ensinar”) e lembrar alguém de um conhecimento que ele já possui. Isto demonstra que Agostinho acreditava no conhecimento inato. Sendo a palavra sinal para comunicar esse conhecimento.
O diálogo entre os dois toma o rumo da discussão do “Crátilo” e falam de como explicar as palavras senão pelas próprias palavras ou signos. Adiante, surge a pergunta se é possível mostrar alguma coisa sem o emprego de um sinal, chegando à conclusão de que não é possível, pois só o sinal expressa um significado. Logo depois o santo admite que a fala, por exemplo, pode ser indicada sem símbolos, e Adeodato admite isso, pois ela não pode ser ensinada, apenas é executada.
Agostinho fala para Adeodato que é natural para a mente não só pensar na palavra quando ela é mencionada, mas também na coisa que a palavra significa. Faz a distinção entre ensinar e significar, pois ensinar é significar através de signos. E diz que a coisa tem valor superior aos sinais, já que o objetivo do sinal é possibilitar o conhecimento da própria coisa. Então Adeodato tem uma dúvida, se é o conhecimento da coisa mais importante que o nome, porque que o conhecimento do nome não é também importante? Para Agostinho, a coisa precede o nome.
O signo ao ser apresentado a mim, segundo S. Agostinho, eu já o conheço, por tanto nada de novo me foi ensinado. E se eu não o conheço como poderia haver ensinamento? Já que o signo pode ser natural ou por convenção. Então, ele que anteriormente disse que só a fala poderia ser indicada sem símbolos, agora diz que é falso dizer que nada pode ser mostrado sem símbolos, quando há milhares de coisas que se apresentam a mente sem necessidade de nenhum sinal.
Agostinho quer dizer com tudo isso que a palavra não é necessária para adquirir o conhecimento, por não possibilitar o aprendizado, mas nos admoesta para recordação. Diz que no seu conjunto ela tem suas utilidades, mas que não se deve lhe atribuir grande importância.
Esse diálogo é finalizado afirmando que o conhecimento é inato, estando na pessoa e se evidenciando pela recordação, e por isso a palavra, os signos não são meios de assimilação do conhecimento, por eles já estarem pré-dispostos no interior do individuo.
Kaspar Hauser era o único que via, sentia e ouvia as coisas, (por exemplo: o vento), totalmente desprovido de significado simbólico.