quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Helenismo e Cristianismo

Helenismo, Benefício Macedônico
Deixado aos Cristãos


É fundamental para compreensão do Cristianismo e sua divulgação o retrocesso na historia até o III século a.C. no advento das conquistas de Alexandre Magno da Macedônia. O ponto basilar por assim dizer é, sobretudo a instauração da língua e da cultura grega nos mais diversos territórios conquistados por ele.
Segundo Guida Nedda B.P. Horta (1998, p.88) “... em conseqüência da expansão colonizadora e imperialista de Alexandre Magno, o ático veio a ser o idioma comum de comunicação internacional entre todos os povos conquistados”, a paixão que o rei tinha com a cultura grega segundo Carl Grimberg (1989, p.20) foi desencadeada pelo seu tutor que lhe deu a conhecer a poesia, a arte... dos helenos, como o próprio autor nos diz “ Filipe mandou ministrar ao seu herdeiro a melhor educação possível nesse tempo. Para iniciar o jovem na cultura helênica escolheu Aristóteles”, Filipe era o pai de Alexandre e, morreu quando este tinha ainda 20 anos de idade e, teve de demonstrar que era forte continuando o projeto do pai de fazer uma campanha contra o império persa. Por causa desta campanha ele conquistou inúmeras regiões, assim como nelas fundou varias cidades: grandes centros culturais onde era difundida a cultura helênica.
Para Guida (1998) a língua grega atingiu os grandes centros urbanos helenizados, ao passo que os idiomas locais só sobreviveram nas regiões interioranas aonde não chegara à civilização trazida por Alexandre. O grego nesse processo de transmissão entre as mais diversas culturas sofreu certa popularização e foi enriquecido pelas expressões da linguagem própria das diferentes culturas do império. O meio mais expressivo de comunicação daí até os primeiros séculos da era cristã, era sem dúvida a língua grega.
No período que surge o cristianismo, na época conhecido como nazarenos ou Galileus os judeus convertidos a essa nova forma de religiosidade, viviam sob o domínio político do império romano. Mas a influência deixada pelo império macedônico ainda era forte, a ponto de o grego ser a língua falada entre os povos, mesmo sendo o latim a língua oficial do império. Este fato deve-se as campanhas de Alexandre já citadas acima e, que a influência do helenismo trouxe aos romanos também a filosofia, que mais tarde será ferramenta essencial para a divulgação do cristianismo aos pagãos.
Contudo é a língua grega tornada popular entre os povos, que é o principal aspecto a ser frisado como fundamental para a divulgação da mensagem evangélica realizada pelos seguidores de Jesus. Já deu para notar que dentro da antiguidade o grego foi a língua mais significativa e, que por volta do primeiro século depois de Cristo, o ambiente era propício para se começar a difusão da fé trazida pelos nazarenos.
Havia naquele tempo, como descreve Guida (1998, p.87) um “propalado sincretismo religioso e o ecletismo filosófico nada mais representavam senão o esvaziamento do pensamento Greco-romano, numa crise espiritual sem precedentes” isto é, havia uma pluralidade de deuses e uma grande mistura da filosofia grega principalmente de Platão e de Aristóteles com as diversas culturas, provocadas pelo helenismo.
Este ambiente provocou certa perturbação que facilitou a entrada e divulgação do cristianismo dentro do território do império romano, é claro, fazendo uso do grego.
Porém a fé cristã é derivada do judaísmo, conhecido como religião fechada, onde seus seguidores acreditam ser o povo eleito de Deus. Para eles a fé era suficiente para acreditar na existência de Deus. Mais diante da nova situação, anunciar o cristianismo requereria assimilar algumas noções filosóficas e seria impossível não ter que abrir mão de algumas coisas que inicialmente fazia parte da sua cultura judaica. Ou seja, o cristianismo que conhecemos hoje, teve no seu inicio de fazer concessões mediante a cultura vigente. Nos dispomos de algumas coisas e assimilamos outras. Mantendo, sobretudo aquilo que era essencial como o Kerigma (Primeiro anúncio dos Apóstolos).
A diversidade religiosa, como descreve Jostein Gaarder (1995, p.145-146) estava como em um “caldeirão” o que causava segundo ele “uma sensação de dúvida e de incerteza em relação àquela filosofia de vida. Que fez o final da antiguidade ser marcada por dúvidas religiosas, dissolução cultural e pessimismo”, quer dizer que a variedade de deuses, tornou fraca e vulnerável a fé daquela gente. Ao passo que o cristianismo trazia naquele momento uma proposta totalmente nova, um Deus único, que promove o amor, a redenção e remissão dos pecados, como também a igualdade entre seus membros. Isto provocou a adesão por parte de muitos a nova proposta de fé.
Recorrendo mais uma vez a Guida Horta, ela nos oferece a compreensão de que por séculos os gregos e os demais povos haviam procurado explicações satisfatórias para a realidade da existência da criação, do significado e destino do homem. Parece que essa constante busca de uma resposta juntamente com uma busca de Deus, foi realizada pelo cristianismo.
Sem o helenismo como apontamos no início do texto, seria dificultosa a propagação da fé feita pelos cristãos, sendo, portanto um benefício deixado àqueles que no começo se dedicaram a divulgar a mensagem de Jesus.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS


DIÓGENES. Vol. 2, nº 2. UFRG: Belo Horizonte, 1998.


GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia: O Helenismo. 31ª Ed. São Paulo: Companhia das Letras,1995.


GRIMBERG, Carl. História Universal: Ocaso Político da Grécia. Vol.6. Chile: Editora Azul, 1989.

terça-feira, 10 de junho de 2008

FILOSOFIA DA LINGUAGEM: CRÁTILO; KASPAR HAUSER; DE MAGISTRO ( Edson Lima, IRFP)

SINTESE: DIÁLOGOS DE PLATÃO: CRÁTILO; FILME: O ENIGMA DE KASPAR HAUSER; DE MAGISTRO DE S. AGOSTINHO.

Nesta síntese abordaremos as questões relativas a linguagem que estão presente na obra de Platão, no filme e, no De Magistro de Santo Agostinho. A ordem de apresentação será de acordo com as semelhanças de abordagem, como “Crátilo” em primeiro lugar, “O enigma de Kaspar Hauser” em segundo e por último o “De Magistro”. O filme não vem por derradeiro, pela obra de Agostinho ser um tanto contraditória a ele, no que diz respeito de como se dá o conhecimento.
I - Na obra de Platão “Crátilo”, temos um diálogo sobre a justeza dos nomes, que surge a partir da opinião contraria de Hermógenes e Crátilo, que querem saber qual é a natureza desses signos. Para o primeiro os nomes decorrem por convenção, que segundo o Dicionário de filosofia (2000, p.580) se trata de um ajuste, acordo ou determinação do meio social.
Já, Crátilo acredita que os nomes nada têm de convenção por eles se originarem pela própria natureza dos objetos.

Nosso Crátilo sustenta que cada coisa tem por natureza um nome apropriado e que não se trata da denominação que alguns homens convencionaram dar-lhes, com designá-las por determinadas vozes de sua língua, mas que por natureza, têm sentido certo, sempre o mesmo, tanto entre os helenos como entre os bárbaros em geral.
(NUNES, 2001, p. 145).

Como podemos perceber são duas posições diferentes quanto à origem dos ónoma (nome), que neste diálogo será orientado por Sócrates.
A discussão começa com Hermógenes convidando Sócrates para participar do diálogo. De inicio ele admite não ter conhecimento dessa questão, e exalta outro personagem, Prótico, que não participa do diálogo, mas que segundo Sócrates, teria a ciência dessa matéria.
Percebemos que Crátilo diz a Hermógenes que seu nome não é aquele pelo qual é conhecido, Sócrates fazendo uso de seu método, instiga os personagens, e fala logo após. Ele começa conversando com Hermógenes, e lhe explica o porquê Crátilo fala que seu nome não é verdadeiro, dizendo que é apenas uma brincadeira, pois, etimologicamente Hermógenes advêm de outro nome: Hermes e que ele nada tem de vinculo ou de qualidades semelhantes com esse deus. Daí em diante continua as indagações.
Sócrates parece se opor a posição de Hermógenes isso fica mais claro quando ele diz “Se eu dou nome a uma coisa qualquer, digamos, se, ao que hoje chamamos homem, eu der nome de cavalo, a mesma coisa passará a ser denominada homem por todos, e cavalo por mim particularmente” e depois pergunta se é isso mesmo que Hermógenes pretende dizer, ao receber uma resposta afirmativa faz uma abordagem ao que disse Protágoras e, incita Hermógenes àdmitir que a teoria deste é enganosa. Se cada opinião fosse tomada como verdade, qual delas seria de fato verdadeira, é mais ou menos isto que Sócrates quer dizer.
Depois disso, falam a respeito dos nomes que variam de lugar para lugar, de um país para outro, embora se tratando do mesmo objeto e, então se supõe que as coisas variam de acordo com o que pensa o homem, ou então, que ela tem uma essência própria, imutável, de modo que todos ao designar nomes diferentes nas diversas línguas, percebam essa essência no objeto. Trata-se, então, para Sócrates de uma essência natural.
Eles acertam também que ao nomear as coisas, deve-se fazê-lo pelo modo natural e, da maneira adequada, e não da forma que pede a imaginação. Então chegam a falar que para nomear algo, será necessária a informação, pois o nome é instrumento para informar a respeito das coisas, e que o trabalho de transmitir os nomes é do legislador e, que nem todo mundo pode ter essa habilidade. Na seqüência, Sócrates faz a primeira tentativa de provocar em Hermógenes a aceitação de que a coisa tem em si mesma sua existência. E o legislador, sob direção do dialético, seria aquele capacitado para formar com sons e sílabas o nome que por natureza é apropriado para cada objeto. Uma vez que o legislador pode ser de sua cultura ou de outra, em nada, seria inferior a propriedade da qual ele faz uso as sílabas, podendo as mesmas ser até diferentes, o que não tornaria o objeto com essências diferentes, pois há uma relação dos nomes, quaisquer que sejam com sua natureza (essência).
No número (391 a) Hermógenes parece fraquejar, mas não se dar por convencido e pede que continuem com o dialogo fazendo uma analise do que consiste a natural exatidão dos nomes. Mais adiante eles ordenam uma serie de analises etimológica dos nomes.
Até aqui entendemos que Sócrates fala que a forma que o nome vai ser chamado tem que transmitir seu significado, que por sua vez é universal.
Começam, então a dialogar sobre a linguagem feita por gestos como um meio de comunicar o que se quer. A análise daqui em diante é feita pelas letras usadas nos nomes.
No final da conversa entre Sócrates e Hermógenes e principio do diálogo com Crátilo, não há uma afirmação concreta acerca do que esta sendo discutido. Hermógenes diz a Sócrates que Crátilo mantêm sua posição numa obscuridade, e que por isso fica difícil compreendê-la.
Crátilo diz ter gostado do que foi dito por Sócrates, e o convida a ser seu discípulo. Voltam a falar do nome de Hermógenes, dizendo que a justeza dos nomes das coisas depende da semelhança que é remetida para o objeto.
Crátilo fala que conhecendo os nomes certamente se conhece o objeto referido pelo nome. Depois mudam o foco da discussão para a coisa em si, desligada do nome, sendo a coisa portadora de significado próprio, sendo o nome já um conhecimento da coisa.
No final do dialogo, Crátilo é levado por Sócrates a fazer uma analise sobre a exatidão dos nomes e, do conhecimento que se pode ter deles. Impelido, Crátilo, não tem como negar que para dar origem aos nomes, o legislador deveria ter conhecimento do que estava por fazer. Mais tarde, Sócrates fala para ele que como Heráclito pregava, as coisas deviam estar em constante movimento, Crátilo, tendo concordado, é forçado a admitir que não é possível que o legislador tenha tido o conhecimento daquilo que estava em constante mudança, e nessa dinâmica seria impossível um conhecimento, na medida que este permanece segundo Heráclito em constante transformação. O diálogo acaba, e não se chega a uma resposta definitiva para o problema.
II - No filme “O enigma de Kaspar Hauser” é perceptível a importância da linguagem para a comunicação humana e sua relação com a sociedade. Segundo o que podemos perceber numa analogia com o texto platônico do “Crátilo” Hauser não tinha inicialmente noções de nome algum, não conhecia a linguagem, nem tinha contato com as pessoas, por isso não desenvolveu sua capacidade de comunicação. Em certo momento, ele é interpelado se antes de sua socialização tinha idéia de alguma coisa, como por exemplo, de Deus, e sua resposta é negativa, não tinha concepção de nada, isso por que lhe faltava linguagem.
A faculdade da linguagem como percebemos no “Crátilo” decorre pela noção que temos, naturalmente ou por convenção das coisas. Quando não temos essa noção, fica difícil conceber nomes como é o caso de Kaspar Hauser que viveu sozinho e isolado das influências sociais.
O personagem quando posto em convivência com pessoas semelhantes a si, começa a ser educado, até então, como disse John Locke, era uma tabula rasa, que começou a adquirir conhecimento através da experiência com os outros. As crianças são as primeiras que lhe ensinam a linguagem. Suas atitudes em relação ao mundo fora de sua “prisão” é um tanto angustiosa, ele percebe o que ninguém consegue como enxergar no escuro, notar o barulho do vento, das cantorias do coral e do padre na missa, e afirma que seu quarto é melhor do que o mundo exterior. Ele acreditava que sua existência no mundo teria sido um duro golpe e todos tinham nele curiosidade. Com o galo se espanta e com os pássaros se identifica, com a comida, tinha se acostumado a comer pão, outra coisa lhe parecia ruim.
A experiência que o mundo lhe proporcionou, fez que surgisse a curiosidade pelo saber. Ele era alguém que via o mundo de forma diferente dos outros, alguém que não tinha sido influenciado a vida toda pela linguagem.
A linguagem é perceptível não apenas entorno de Kaspar Hauser, o próprio filme é em alemão, para entendê-lo vazemos a convenção da linguagem para o português. Kaspar teve que assimilar aquela língua para se socializar, no filme vimos ainda outros personagens que caracterizam a importância da linguagem, da escrita, como é o caso do escrivão.
Kaspar Hauser revela que antes não podia sonhar, pois não conhecia os signos. O filme, muito filosófico, termina com a morte e permanência do enigma de Kaspar Hauser. O motivo do fim de sua vida, sem dúvida é por causa do seu aprendizado, o que possibilitava a revelação do seu segredo, por intermédio da entrega daquele que antes lhe mantinha em cativeiro.
III - O “Confissões de Magistro” de Santo Agostinho trata da problemática da comunicação e, finalidade da linguagem.
O diálogo tem início com a pergunta proferida por Agostinho a Adeodato sobre a finalidade da fala, consistindo a resposta numa dupla finalidade: ensinar ou aprender. Agostinho lhe diz que é apenas ensinar. Um ensino pela recordação (lembrando sua influencia socrática), isso porque para ele a comunicação pode servir dois propósitos: transferir idéias (“ensinar”) e lembrar alguém de um conhecimento que ele já possui. Isto demonstra que Agostinho acreditava no conhecimento inato. Sendo a palavra sinal para comunicar esse conhecimento.
O diálogo entre os dois toma o rumo da discussão do “Crátilo” e falam de como explicar as palavras senão pelas próprias palavras ou signos. Adiante, surge a pergunta se é possível mostrar alguma coisa sem o emprego de um sinal, chegando à conclusão de que não é possível, pois só o sinal expressa um significado. Logo depois o santo admite que a fala, por exemplo, pode ser indicada sem símbolos, e Adeodato admite isso, pois ela não pode ser ensinada, apenas é executada.
Agostinho fala para Adeodato que é natural para a mente não só pensar na palavra quando ela é mencionada, mas também na coisa que a palavra significa. Faz a distinção entre ensinar e significar, pois ensinar é significar através de signos. E diz que a coisa tem valor superior aos sinais, já que o objetivo do sinal é possibilitar o conhecimento da própria coisa. Então Adeodato tem uma dúvida, se é o conhecimento da coisa mais importante que o nome, porque que o conhecimento do nome não é também importante? Para Agostinho, a coisa precede o nome.
O signo ao ser apresentado a mim, segundo S. Agostinho, eu já o conheço, por tanto nada de novo me foi ensinado. E se eu não o conheço como poderia haver ensinamento? Já que o signo pode ser natural ou por convenção. Então, ele que anteriormente disse que só a fala poderia ser indicada sem símbolos, agora diz que é falso dizer que nada pode ser mostrado sem símbolos, quando há milhares de coisas que se apresentam a mente sem necessidade de nenhum sinal.
Agostinho quer dizer com tudo isso que a palavra não é necessária para adquirir o conhecimento, por não possibilitar o aprendizado, mas nos admoesta para recordação. Diz que no seu conjunto ela tem suas utilidades, mas que não se deve lhe atribuir grande importância.
Esse diálogo é finalizado afirmando que o conhecimento é inato, estando na pessoa e se evidenciando pela recordação, e por isso a palavra, os signos não são meios de assimilação do conhecimento, por eles já estarem pré-dispostos no interior do individuo.


Kaspar Hauser era o único que via, sentia e ouvia as coisas, (por exemplo: o vento), totalmente desprovido de significado simbólico.

O PRÍNCIPE - NICOLAU MAQUIAVEL

Em O Príncipe, Maquiavel faz uma referência elogiosa a César Bórgia, que após ter encontrado na recém conquistada Romanha, um lugar assolado por pilhagens , furtos e maldades de todo tipo, confia o poder a Dom Ramiro de Orco. Este, por meio de uma tirania impiedosa e inflexível põe fim à anarquia e se faz detestado por toda parte. Para recuperar sua popularidade, só restava a Bórgia suprimir seu ministro. E um dia em plena praça, no meio de Cesena, mandou que o partissem ao meio. O povo por sua vez ficou, ao mesmo tempo, satisfeito e chocado.
Para Maquiavel, um príncipe não deve medir esforços nem hesitar, mesmo que diante da crueldade ou da trapaça, se o que estiver em jogo for a integridade nacional e o bem do seu povo.
“sou de parecer de que é melhor ser ousado do que prudente, pois a fortuna
(oportunidade) é mulher e, para conservá-la submissa, é necessário (...) contrariá-la. Vê-se, que prefere, não raramente, deixar-se vender pelos ousados do que pelos que agem friamente. Por isso é sempre amiga dos jovens, visto terem eles menos respeito e mais ferocidade e subjugarem-na com mais audácia”.

Um governante deveria fazer qualquer coisa para atingir seus objetivos.

Um outro detalhe muito importante que pode ser percebido no decorrer de toda obra são os exemplos históricos. Maquiavel fundamenta toda a sua teoria na história dos grandes homens e dos grandes feitos do passado. Segundo ele, “… os homens trilham quase sempre estradas já percorridas. Um homem prudente deve assim escolher os caminhos já percorridos pelos grandes homens e imitá-los; assim, mesmo que não seja possível seguir fielmente esse caminho, nem pela imitação alcançar totalmente as virtudes dos grandes, sempre se aproveita muita coisa". (MAQUIAVEL. 1996) O mais interessante é que, através desses exemplos, ele comprova tudo o que está sendo dito e convence o leitor com os seus argumentos que são muito pertinentes e se encaixam perfeitamente no que ele está querendo dizer.

Outro aspecto marcante de sua obra é quando são tratados os meios de se tornar príncipe, que podem ser dois: pelo valor ou pela fortuna. Entretanto ele adverte que aqueles que se tornaram príncipes pela fortuna tem muita dificuldade para se manter no poder. Porém, a fortuna e o valor não são as únicas formas de se tornar príncipe. Existem outras duas: pela maldade e por mercê do favor de seus conterrâneos, mas Maquiavel diz que os príncipes que realizaram matanças e não tem nem piedade nem religião, podem até conquistar o mando, mas não a glória.
O príncipe deve desejar ser tido como piedoso e não como cruel. Daí surge uma questão muito debatida: é melhor ser amado ou temido? A resposta de Maquiavel é que o melhor é ser as duas coisas, mas como é difícil reunir ao mesmo tempo essas duas qualidades, é muito melhor ser temido do que amado, quando se tenha que falhar numa das duas. "Os homens hesitam menos em ofender aos que se fazem amar do que aos que se fazem temer, porque o amor é mantido por um vínculo de obrigação, o qual, devido a serem os homens pérfidos é rompido sempre que lhes aprouver, ao passo que o temor que se infunde é alimentado pelo receio de castigo, que é um sentimento que não se abandona nunca. Deve portanto o príncipe fazer-se temer de maneira que, se não se fizer amado, pelo menos evite o ódio". (MAQUIAVEL. 1996)
Em síntese, O Príncipe é um manual para governantes que visa a auxiliar um novo príncipe a manter o poder e o controle no seu Estado. Apresenta exemplos da espécie de situações e problemas que esse príncipe poderá enfrentar, e aconselha-o de modo circunstanciado quanto ao modo de solucioná-los.
No capítulo inicial de “O Príncipe”, Maquiavel postula haver duas principais vias pelas quais se adquire um principado – pelo exercício da virtú ou pelo dom da fortuna. Segundo o autor, o carisma da virtú é próprio daquele que se conforma à natureza de seu tempo, apreende-lhe o sentido e se capacita a realizar praticamente a necessidade das circunstâncias, isto é, dos momentos propícios fornecidos pela fortuna. Algumas figuras maquiavélicas – Moisés, Ciro e Rômulo – "criaram grandes e duradouras instituições", devido à virtú. Já a decadência de Cesare Borgia foi decorrente da fortuna que o abandonou. Por intermédio de uma história comparada, Maquiavel conclui que "apenas por meio da virtú" um príncipe pode vencer "a instabilidade da fortuna" e assim " conservar seu estado". No penúltimo capítulo o autor comprova sua tese ao demonstrar que a decadência italiana era reflexo da ausência de virtú, capaz de domar os ímpetos da fortuna.
Desse modo, surge o conceito de virtú engendrada na concepção da moral política baseada na astúcia, força, estabilidade e vigor de seus governantes. Para Maquiavel, virtú é um conjunto de qualidades, sejam elas quais forem, cuja, aquisição o príncipe possa achar necessária a fim de "manter seu estado e realizar grandes feitos". Dominado por uma visão clássica, humanista e patriótica, Maquiavel acredita que "os fins justificam os meios", ou seja, para a libertação da Itália do domínio bárbaro, bem como da decadência, o príncipe de virtú será capaz de "não se afastar do bem, mas saber entrar no mal, se necessário".

Nesse contexto, ao discorrer sobre "O Principado Civil", Maquiavel descreve a relação entre o príncipe e o povo, fundamental para a consolidação do Estado, antecipando o conceito posteriormente conhecido como a "teoria de luta de classes". Segundo Maquiavel, o principado provém do povo ou dos grandes, segundo a oportunidade que tiver uma ou outra dessas partes. Cria-se, assim, a seguinte antítese: "Enquanto o povo não quer ser oprimido pelos grandes... os grandes desejam oprimir o povo". (MAQUIAVEL. 1999) Para Maquiavel, a energia criadora de uma sociedade advém do sistema de oposição entre os grandes e o povo e, assim, os conflitos sociais são necessários para a consolidação do Estado, cabendo ao príncipe de virtú possuir uma "astúcia afortunada" para tirar as melhores possibilidades de tal oposição. Contudo, o autor enfatiza que é necessário ao príncipe "ter o povo como amigo, caso contrário, não terá remédio na adversidade" (MAQUIAVEL. 1999), pois na ânsia de não ser oprimido o povo possui fins mais honestos do que os grandes.

INTERPRETAÇÃO DO FENÔMENO DA SOCIABILIDADE

A DIMENSÃO POLÍTICA E SOCIAL DO HOMEM:
INTERPRETAÇÃO DO FENÔMENO DA SOCIABILIDADE


Na filosofia antiga temos duas concepções da dimensão sócio-político do homem. Platão coloca esta dimensão como contingente, já que o homem para ele é essencialmente alma.
Para Aristóteles a dimensão sócio-político era essencial, haja vista, que o homem para ele é corpo e alma, e esta constituição o liga aos vínculos sociais. Tendo o homem como fim último a felicidade que só se realiza coletivamente, o próprio estado tem a função de ajudar a cumprir esta meta.
Com o cristianismo há uma mudança profunda na concepção da sociabilidade do homem, ultrapassando o campo natural e se estendendo ao sobrenatural. A primeira fundada sobre a razão e a segunda sobre a graça.
Na filosofia medieval temos dois grandes nomes que refletem acerca da sociabilidade: Agostinho e Tomas de Aquino. Um mergulhando na filosofia platônica, outro bebendo da filosofia aristotélica.
Agostinho nos apresenta a cidade de Deus e a cidade dos homens para tornar claros os dois tipos de sociabilidade, ambos fundados no amor, porém, um é fundado no amor egoísta e o outro no amor doação.
Um é capaz de doar sua vida, o outro capaz de matar, gerando violência, exploração e todo tipo de desumanização, enquanto que no outro temos a comunhão, a fraternidade e a justiça como fundamento.
A influência aristotélica fez Aquino afirmar que o homem naturalmente social possibilita por esta característica o surgimento da sociedade política. E é só na sociedade e no estado que o homem pode ser feliz.
Quer a sociedade, quer o Estado devem canalizar todas suas forças para que o homem se realize, pois, eles estão à serviço do bem comum.
Em Tomas, também, encontramos a relação entre Estado e Igreja. Uma tendo como finalidade o bem comum e a outra a salvação das almas. Ambas com campos de atuações independentes, no entanto, o Estado tinha uma subordinação indireta em relação a Igreja, devido esta está ligada ao plano espiritual.
Na filosofia moderna reaparece a concepção platônica acerca da sociabilidade e esta passa a ser novamente um “fenômeno secundário”. Os principais nomes dessa fase são: Espinosa, Hobbes, Locke, Leibnits, Vico, e Rosseau. “Todos esses autores colocaram clara distinção entre o estado natural da humanidade e o estado civil”.
No estado natural o homem é auto-suficiente, só criando o segundo através de um “contrato social” para que a auto-suficiência não os levasse a barbárie.
Vislumbra-se com isso que o indivíduo está acima da sociedade, dando margem para a justificação do sistema capitalista que coloca a “iniciativa privada” como base da economia.
Na modernidade Karl Marx vê que a sociabilidade não é apenas uma característica do homem, mas o que ele tem de fundamental. Para ele é inimaginável o homem fora da sociedade.
Marx pensa o homem como ser genérico, isto é, um indivíduo que para existir necessita da sociedade, devendo trabalhar para esta, freando todos seus instintos egoístas e individualistas.
Conte segue a mesma linha, dando supremacia, a sociedade sobre o indivíduo. Vendo somente este como ser social excluindo diversas dimensões do homem entre elas sua personalidade individual.
Em Marx e Conte não é mais a sociedade para o indivíduo, mas o indivíduo para a sociedade.
Durkhein vem fortalecer o posicionamento de Marx e Conte de “subordinar o indivíduo ao fenômeno social”. Para ele a conduta humana era ditada pela sociedade, a consciência individual é a manifestação da consciência coletiva. Lévy-Bruhl segue a mesma linha no que concerne a ética.
Contra esse pensamento opôs-se filósofos e sociólogos entre os primeiros Nietzsche, Heidegger, Sartre que acabaram caminhando para o outro extremo, o individualismo, excluindo, assim, a dimensão social do homem.
Numa posição mais equilibrada encontra-se Maritaim. “Ele estuda a dimensão social do homem à luz dos conceitos de indivíduo e pessoa”. Quanto indivíduo fecha-se em si, porém, enquanto pessoa é capaz de doar-se e receber o outro como dom.
Do lado dos sociólogos temos Pitirin Sorokin que se opuseram as “transposições de termos e formulas” das ciências naturais para a sociologia e as outras ciências humanas. Já que se tratando de pessoas não se pode encontrar a exatidão das ciências exatas.
Sorokin criou uma teoria do conhecimento. Tendo três níveis que devem ser harmônicos e obedecer à hierarquia: conhecimento empírico, conhecimento racional e o conhecimento intuitivo de onde provêm as construções mais elevadas do homem, a arte, a moral e a religião.

A DIMENSÃO SOCIAL E POLÍTICA DO HOMEM

A DIMENSÃO SOCIAL E POLÍTICA DO HOMEM
O FENÔMENO DA SOCIABILIDADE


Sociabilidade é todo o processo através do qual um indivíduo se torna membro funcional de uma comunidade, assimilando a cultura que lhe é própria. Isto porque o homem é propenso a viver junto com outros e de comunicar-se com eles. Isso o torna um ser essencialmente sociável, pois não poderia ter subsistência sozinho. Não poderia nascer, ser educado, satisfazer suas necessidades ou realizar suas aspirações sem que para isso precise de outra pessoa. O processo social é contínuo e nunca se dá por terminado, começa quando a pessoa nasce e dura toda sua vida. Já desde os primeiros homens sobre a terra, o encontramos disposto em grupos sociais, que inicialmente se estabelece na família, no clã, a tribo. E posteriormente cresce em sua dimenção tornando-se cidade, estado e hoje com a globalização tornou-se sociedade internacional.
Os meios de comunicação modernos nos puseram cada vez em contado com os acontecimentos em tempo real, interligando o mundo e as pessoas numa grande diversidade cultural e social. A sociabilidade é tão intriseca a nós que qualquer fato ocorrido no planeta pode nos abalar, assim como sociedades inteiras. Qualquer ato humano reflete sua integração social e, todos estamos envolvidos nesta relação seja por um ato comercial, receber um salário, estar com amigos, etc. Tudo o que fazemos está pré-disposto em normas sociais que refletem em nossas atitudes cotidianas, coisas que estão independentemente e além das nossas intenções.
Um golpe na bolsa de Nova York, pode valorizar ou desvalorizar totalmente os negocios no mundo inteiro e suas consequencias são claramente percebidas por todos nós, ex: aumenta o preço do barril de petróleo, e com ele os combústiveis, os transportes, os alimentos. Tudo ocorrido em cadeia com o fato ocorrido na bolsa de valores.
As relações humanas ganharam em nosso seculo novas proporções, a dimensão privada praticamente desapareceu. Com dificuldade podemos ocultar nossos pensamentos, nossas ações tornan-se própriedade dos outros, e os meios de comunicação os tornam públicos. Se isolar, hoje, não é possivel, não poderiamos viver sozinhos.
A época atual é da propriedade comunal e, no plano internacional, das organizações multinacionais. Neste mundo globalizado, o individuo sobre varias reações motivadas pelas multiplas possibilidades oferecidas pela sociedade. Uma delas é a capacidade de agir, e até de pensar do indivíuo, que neste novo ambiente se encontra reduzido, raciocinar algo que contraste com este fenomeno é cada vez mais raro, frente as diversas possibilidades de pensamentos já propostos até então. A independencia, então, de fato, não ocorrre frequentemente no plano pessoal devido a impotencia que o individuo encontra frente a gigantesca maquina do estado. Isto demonstra que a pessoa está totalmente rodeada pelas influencias dos demais e que deve se entender como participante da comunidade. Alguém que se encontra como pessoa e, deliberadamente, decide por sua interdependencia com os outros; conciente que sua natureza já é de fazê-lo entrar em relação com seus semelhantes, mais isto deve ser para o homem uma atitude livre, não influenciada pelas pressões de sua época, embora, mesmo não tendo conciência, nem atitude livre desta escolha, ele, de qualquer modo será um ser na sociedade.